...a energia, de tensão alta e densa,
que me faz escrever vital e eruptivamente
estas coisas que não são completamente
poesia nem prosa em demasia
é gerada sabe Deus por quem, mas alimenta-se
ou melhor, é alimentada pela ferrugem
que se desprende do e corrompe o ferro precário
da saúde, de uma saúde que aparentemente,
só aparentemente dou a impressão de esbanjar...
Toda genialidade é amiga íntima
e, paradoxalmente, inimiga inseparável
da enfermidade que lhe fornece sombra,
escuridão, arma, munição e alimento...
Já imaginaram o quanto Nietzsche teria perdido
em termos de angústia propulsora,
de disposição para o abismo, de vitalidade criativa
e de danação inspirada
se não tivesse tido a sorte infernal
de contrair aquela sífilis(?) sem a qual
ele, decerto, teria escrito Assim Falou Carlos Zara,
Carlos Zara e não Zarathustra...
(Ria, leitor, pode desfraldar à vontade
a bandeira vermelha, dentada
e estrelada da risada... E estrelada
porque até a boca grande - que "Meu Tio o Iauaretê"
achava sensualíssima - de "Maria-Maria"
ou seja
da onça verdadeira - pintada - tem céu
um céu que nenhum brigadeiro deseja explorar...)
Por José Lindomar Cabral da Costa
cabraldacostajoselindomar@yahoo.com.br