Não quero perdões nem arrependimentos;
Não quero mãos de mãe me afagando antes de dormir nem levando o jantar na cama;
Não quero sobremesa depois da refeição nem exijo o direito a uma noite de sono tranquilo;
Não quero brasas me aquecendo enquanto a geada embranquece a relva lá fora;
Não quero mata-juntas entre as tábuas para evitar a entrada do vento invasor;
Não quero água quente para os pés cansados,comprimidos para dor de cabeça nem
check-ups anuais para evitar essas doenças galopantes que trazem a morte na garupa;
Não quero artifícios para disfarçar as cicatrizes do tempo nem curativos para as feridas que a vida faz;
Não quero frases do tipo "errar é humano","ninguém é perfeito",nem conselhos dos mais velhos que,
cansados de errar,pensam ter acertado;
Não quero flores perfumando a minha chegada nem lenços abanando a minha partida;
Não quero velas no meu velório,terno de linho nem cochichos dizendo do quanto "eu era bom" e se perguntando
do porquê de eu ter ido tão cedo;
Não quero placa de bronze na minha lápide estampando frase honrosa nem cruz com "aqui jaz..."
para marcar onde meu corpo ficará guardado para sempre...
Eu quero a adaga afiada e aquecida em fogo vivo para um corte profundo;
Quero o erro exposto em julgamento aberto;
Quero as verdades contundentes das ruas,os acordos de esquina em hora tardia,os segredos de alcova;
Quero as vontades reprimidas dos enclausurados;
Quero a revolta do índio pela terra tomada e o olhar desconfiado do negro pelo preconceito de cor;
Quero a farda dobrada em cima da cama e o fuzil carregado para uma saída rápida quando
Apontar a aurora...
É tempo de guerra.
Luciano Correa Batista
lucianoc35@hotmail.com
fev/2008