percebi a santidade da minha pena
quando desenhei o primeiro pecado,
em forma de poema, o meu ato de
desagrado aos puritanos fez
admitir em mim a existência de
um poeta profano.
minha pena entusiasta
brada pela rosa que
desabrocha num jardim
imundo,
uma virgem que se corta
pela angustia de nunca
ter sido tocada, nem por
um segundo, nem por um
canalha.
meu canto vai
pro ato do estupro
que traz à força
prazer à moça
que não nega no
escuro que gostou do
absurdo da violência
que sua boca do ventre
sofreu, o corpo gozou
a alma morreu...
vou pelo desespero
do espelho que reflete
o ensejo de apenas
conceder imagem ao
caos, a destruição moral
de toda criatura que
busca e abusa do pudor,
do moralismo hipócrita,
do amor e de toda alegria
devota de paz interior.
minha pena desdenha,
desenha pequenos demônios,
sinônimos de rebeldia
donos de talentos singulares,
de trazer alento a todos os
covardes que negam a si
mesmos sua própria alforria, e,
na solidão a cocaína que alivia,
me enamora e vai embora
deixando-me nas proximidades
da depressão, outro dia,
outra hora, outra droga e,
quem sabe agora a redenção.
lastimo o fato de você,
leitor ingrato, achar
artificial o resultado final
do pranto da minha pena vadia,
afinal, quanto a esse pequeno
dilema, espero mesmo que não
se renda a minha poesia, posto que
a mesma vicia e faz de quem
nela acredita, vermes, pessoas vazias.
esse poeta de brados incisivos
faz ver sobre seus cantos subversivos
algo que soa como erudito, pois isso,
apenas isso explica a ascenção da
maldição dos seus versos decaídos.
pazanarquia@hotmail.com
18/02/11