Crepúsculo, momento sagrado, hora de minha alma,
Leito da luz, berço de estrelas.
O sol cerra suas pálpebras azuis, marmorizadas,
Para que a Inquietação, essa filha ingrata,
Sussurre o desconhecido
(Coisas sacrossantas e profanas)
No ouvido ainda distraído pelo dia.
E a luminosidade fugidia,
Cálida, de um amarelo ocre dourado,
É o manto mais mágico,
Quase um cântico sem músicas ou palavras,
Manto paradoxal, de claros e sombra,
Toda beleza sob seu teto
É mais ampla
Ainda que não haja beleza alguma.
Os pássaros voejam.
Há amantes que se beijam com agonia,
Por se despedirem de seu Éden fugaz.
São também as horas dos ventos antigos
Que varrem a Terra há tempos imemoriais.
Ventos dramáticos, densos,
Ah, Força Vital primeira, primitiva,
Carrega em seu uivo o brado selvagem
Adormecido em nós, em fogo brando,
Como um fóssil
Repousa no âmbar.
20/02/05
lucynogueira@yahoo.com.br