... eles me vigiam o tempo todo...
Há anos que não dou um passo
inclusive eletronicamente
sem que eles me sigam...
No começo eram tão discretos
que para detectar a presença deles
eu quase precisava fazer uso
do meu vigésimo – vigésimo talvez,
quem sabe? – sentido...
Porém, de uns tempos para cá,
ao que tudo indica, foram orientados
a ostentar acintosamente essa vigilância,
de maneira que aonde quer que eu vá
já não tenha dúvidas de que, além de seguido
também estou sendo indiscretamente filmado...
Contudo, tenho percebido prazerosamente
que os ditos e diabolicíssimos cujos
estão desconcertados, porquanto enquanto
me filmam (e têm certeza de que percebo
que estão me filmando) em vez de entrar
em pânico, como seria de se esperar,
e como eles obviamente esperam que eu entre,
em vez disso, lembro-me de que Deus
tem um plano comigo, e esta lembrança
faz com que os meus nervos ao invés
de produzirem frangalhos,
produzam inoxidavelmente aço suficiente
para enerva-los, ou seja, me forneçam
a liga metálica nervosa
de que preciso para me divertir, ou melhor
para sorrir, afinal estou sendo filmado...
Mas quem são eles de fato(?) – você, leitor, perplexo,
deve está se perguntando isso...
Ao que respondo: Eles são demônios, demônios
de carne e osso ao sujo, ensangüentado e ocultista
serviço do mesmo Poder para o qual trabalhavam
aqueles caras da polícia política a respeito dos quais
Eduardo Alves da Costa,
e não Maiakóvski, escreveu o seguinte poema:
“Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a lua, e,
conhecendo o nosso medo
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
Já não podemos dizer nada".
Por José Lindomar Cabral da Costa
cabraldacostajoselindomar@yahoo.com.br