... primeiro eles tentaram
fechar a boca do poeta
(boca, uma ova: bocarra)
por meio da magia
mais cor de piche que existe,
enviando ao encontro do mesmo
espíritos imundos, mortuários
encarregados de transmitir
doenças incuráveis e levar
o sujeito ao suicídio...
Falharam... porque eu de fato
desfruto do esconderijo do Altíssimo
e a Sua sombra onipotente
me cobriu e a segurança
que ela me concedeu
fez com que eu zombasse deles
- dos referidos espíritos mortíferos
que falharam na missão
de me calar para sempre –
como Elias zombou dos 450
profetas de Baal antes de faze-los
passar pelo gume de navalha de sua espada...
Depois, os amaldiçoados
enviaram-me assassinos de aluguel
mas Miguel, o arcanjo
se interpôs entre mim e estes
de maneira que cá estamos nós
(eu e meus demais eus) agregados, unidos
e a exercitar esta língua
que está agora mais livre, farpada,
cortante e desprovida inclusive de papas,
bispos e freiras do que nunca...
Então eles, vendo que sou uma parada
dura, grossa, comprida, envernizada
e de asas, resolveram pegar o silêncio
e o transformaram em areia, ferro, água
cimento e sabe Deus no que mais
e construíram com ele
à minha volta
muros metafóricos e, entrementes,
mais difíceis de serem derrubados
do que, por exemplo, as altas e obesas
muralhas que não foram capazes
de permanecer de pé na hora
em que Jericó mais precisou
da falsa segurança que as mesmas
fingiam lhe oferecer...
E falsa porque “se o Senhor [assim está escrito]
não guardar a cidade
em vão vigia a sentinela”.
Enquanto isso, ou seja,
enquanto eles constroem muros sólidos
porém derribáveis
e alugam pistoleiros cujas armas Deus faz com que
dêem coices neles
e cuspam fogo pela culata,
eu prossigo munindo a raiva de frieza
e paciência, e a fortalecer o meu grito
dotando-o de muita dinamite
e de pavio na medida certa...
Por: José lindomar Cabral da Costa
joselindomnarcabraldacosta@yahoo.com.br