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A ti, Belém - de Antero de Sousa |
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Rodeado de mangas e mamões, a vista interceptada por papoulas - tão diferentes, como campaínhas! - bromélias, samambaias e palmeiras, vejo passar o Brasil ali na rua pé na sapatilha de borracha calção caído pela meia-perna tronco tostado nú desse caboclo fruto saído dos sóis de meio mundo. As mocinhas em silêncio deslizante vão pelo calor buscando a feira recheada de mil pequenas jóias de arame dourado para enfeitar os pulsos, as orelhas marron, os dedos frágeis. Parecem não estar, nuvens passando tocadas pela brisa após a chuva. Belém do Pará! Terra bendita tão mal aproveitada! É deus perdido machucado por destino tão estranho vergado ao peso da história e do passado! Deve haver outro Brasil esplendoroso das imagens mostradas no meu mundo Brasil de areia e sol, e verde e azul meigo e macio qual bébé chilrando onde a música vem do passarinho vibrante de cor e movimento .. Mas eu só vejo o Brasil do meu Avô penando e morrendo sem carinho sem me ter conhecido, sem eu o conhecer um Brasil mítico de árvores da pataca eldorado cegando o aldeão do meu país, abandono de casa e pobres filhos perdidos para sempre na desgraça...
Esgueirando-se pelas nuvens sempiternas cinzentas de humidade e poluição, o sol ataca seres e plantas conformadas. O beija-flor aproveita e vem sugar papoilas e bromelhas dadivosas enchendo-me de amor e de ternura.
Brasil! Belém do Pará! Deixo-te o meu coração para que queiras só amor ao mundo e ergas a direito teu perfil olhando bem de frente o universo com orgulho de seres como nasceste vergôntea que verga ao som do vento e não quebra no rugir da tempestade.
Adeus, Brasil!
anterosousa@netcabo.pt Belém do Pará, Aeroporto, 23 de Dezembro de 2001 |
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