... sei que não estou velho
porque além de o passado
não haver ainda se tornado
insalubre e inodoro, os rostos
dos que foram deixados
fisicamente para trás
continuam nítidos e coloridos
quando deles me recordo...
No dia em que os mesmos
ao serem rememorizados
se tornarem indistintamente
desbotados e esmaecidos,
aí sim, saberei que envelheci
e, decerto, exclamarei
reticentemente, bem-humorado
e perplexo, por haver tão rápido
chegado ao crepúsculo, dizendo:
“Então o outono é isso...!”
Por enquanto, adejo e assim
me mantenho seraficamente
suspenso e equilibrado no ar
e as minhas esperanças
que são imortais
molham as verdes penas
de suas asas pequenas
e refrescam a garganta
em águas pluviais
porquanto no Nordeste
a neve são densos, irônicos
e acinzentados flocos de tédio
e chamamos eufemisticamete
de inverno a cálida e úmida
estação das chuvas...
Por José Lindomar Cabral
cabraldacostajoselindomar@yahoo.com.br
