Estou estafado de ficar confinado aos muros:
aos muros de mim mesmo.
Queria era poder suplantá-los para chegar até a balsa
da divagante consciência e, por sua vez, ao singrar o rio das idéias
confusas, triunfar sobre as miríades das sentimentais tormentas materializadas em angustiada solitude, cheia de resignada fleuma:
pesarosa, soturna, cativa, profunda, eterna lufada de incertezas.
Na verdade, gostaria, realmente, de que meus pensamentos pudessem transpor os escolhos que são encontrados
ao longo da vastidão do mar da memória:
pois quem lhes lança uma olhadela não acredita;
ao contrário, crê em sua doce e angélica fisionomia.
No entanto, mais que bela perfídia:
infelizmente, eles se irmanam á água-viva:
esta, tão meiga, cândida, inócua, mádida, garrida;
arde, fere, lacera, calcina.
Oh! como gostaria de achar um caminho que me conduzisse
á saída do alcácer de meu ego.
Em verdade, como quero que meus pensamentos sobrepujem-lhe,
sem medo, a fina, forte e ferina soleira de nocivos sortilégios!
Então, liberto, vagar á procura:
á procura d’outros escravos da mesma egocêntrica angústia:
os quais, assim como eu, a alimentam
com o oceano caudaloso de surreais lirismos de desventuras
corriqueiras jazidas em lúgubres e áridas sepulturas
de anônima tristeza puritanamente impúdica.
Ah, mais o quão me agradaria, a seguir, de penetrar a matéria de seus cérebros: daí, esquadrinhar-lhes todo o complexo
até achar os nichos que portam o vírus, a anomalia
do rio-mar-oceano perene da passionalidade excessiva.
Não obstante, gostaria de fazer a prospecção de seu terreno
para ver se é possível que se possa criar um antídoto.
Antídoto que nos possa curar da chaga
que é o câncer do hedonismo:
câncer este, o qual, silentemente, nos corroe por dentro:
então, apenas, se revelando fatalista, quando a hemorragia irrompe da pele, derramando, no vazio incógnito do ocaso, até a última gota da água que alimenta continuamente os nossos corpos, ali exaustos, os quais, outrora, se achavam, cintilantemente, animados.
Ah! que pena,
meu banho de sol termina.
Ah, infelizmente, vejo-me encerrar, de novo,
na penitenciária da atroz e sensaborosa rotina.
Sim, e, assim, confinado na antiga cela da controversão,
sinto o vagalhão da vazia brancura me tocar com sua insistente mão de desilusão. Sinto o mais que conhecido gosto da velha melancolia soçobrar o fluxo da manancial de minha reflexão até aí incontida.
Ah, como quero poder transpor as fronteiras da prisão do egoísmo
para semear em meu solo, quase maninho, o rio da liberdade de consciência, onde germinem flores de pensamentos altruístas.
Oh, como quero que os raios do sol do altruísmo
incidam sobre as retinas da minha mente de hiena faminta.
barbosia@zipmail.com.br
12/05/2007