O Espírito do homem,
entenda-se, o Assopro incandescente
que se herda de Adão,
me chama de amigo
e me conta cada segredo
acerca da cada vez menos humana
e reptilizada natureza da humanidade
capaz de fazer com que
a velha do arco precise
por a mão no queixo comprido, verruguento
e barbudo para impedir
que o dito e não-imberbe cujo
venha, pasmo, a cair...
Outro dia mesmo Ele – o referido Assopro -
que também é chamado budistamente de Nirvana,
segredou-me
o que acontece com os Budas, por exemplo
quando o espiritual fio umbilical
de um deles se parte e, simultaneamente,
quebra-se a tigela de prata, da prata
mais prateada e preciosa que existe,
sim, de prata, porém tão quebrável
como se de barro fosse, e, ao quebrar-se,
no mesmo instante o citado Assopro
hereditário, sobe, num piscar de olhos,
rumo aos pulmões de Deus que o soprara,
enquanto a alma do Buda, nua, morta, escamosa
e mais negra do que uma boneca de piche,
desce desgraçadamente para um lugar
ainda mais fundo, escuro e sufocante
do que o sepulcro; ora, deixemos
de rodeios e sejamos grossos, curtos
e não-lubrificados, dizendo
sem vaselina e sem anestesia
que a alma do tal Avatar desce para o inferno
para pagar inclusive e principalmente
pelo crime de haver enganado os homens
ocupando usurpadoramente entre eles
um lugar messiânico, lugar este
que pertence única e exclusivamente ao Mestre
dos mestres, ao Deus Filho, Jesus Cristo
que é dono dos mundos
e Senhor dos vivos e inanimados.
Por José Lindomar Cabral da Costa
cabraldacostajoselindomar@yahoo.com.br