... sinto que estou sendo procurado
por um poema,
um poema fêmea, por sinal
e fêmea devido a ambigüidade
dessa procura, pois não obstante
o mesmo esteja me procurando,
o faz de maneira tal que me transmita
a feminina e de cu adocicado impressão
de que sou eu quem o está caçando,
isto sem mencionarmos o fato
(e mencionando-o, no entanto)
de que se este fosse um poema macho,
ele, além de me procurar explicitamente,
não usaria de subterfúgios para me chamar:
Lindomar... Lindomar... Lindomar...
me chamar
até que o achasse, por mais longe,
ou melhor, por mais "alhures"
- como diria Jan Skácel –
que o dito cujo se encontrasse...
Mas como o referido é fêmea,
em vez de pronunciar o meu nome,
limita-se femininamente a liberar
esse chamativo e vaginal odor feromonial
que me endurece o pau
e faz com que engatilhe a caneta,
‘engatilhe’, sim senhor, porque nesta meia
acordada e meia onírica caçada
a caneta me serve de espingarda
e, BAM! Meu Deus, acertei-o bem na asa
e agora, contemplando a hemorragia,
posso confirmar “in loco”
o que disse Cecília Meireles a esse respeito:
Tem realmente sangue eterno
a asa ritmada, e sangue mugidor ainda por cima,
mugidor e da mesma cor do líquido bovino
que a mulher libera quando menstruada...
(E ‘líquido bovino’ porque não sei se você sabe,
leitor, mas há lugares neste bananeiro e infeliz,
digo, neste brasileiro continente
chamado erroneamente de país
onde se diz fulana “está de boi, bovinou”
em vez de dizer simplesmente “fulana menstruou”...)
Por: José Lindomar Cabral
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