Não sei o que sou
No que me tornei
Frio, calculista, talvez passional
Não tenho certeza do meu amor
Se sou bom ou mau
Vingativo, Apedrejado
Humilhado, enganado
E o amor eterno?
E a confiança perdida?
E a dor sofrida?
Nem estas frases inconstantes aliviam
Não a dor da amada perdida
Mas da humilhação sofrida
Das sufocantes interrogações
Das incertas futuras paixões
O que me enoja mais?
Não sei
A covarde traição sem motivo?
Ou talvez porque houve um motivo?
Mas qual?
A demasiada atenção?
Ou a falta dela?
Será mesmo minha culpa?
Da falta de caráter?
Não minha, da ex-amada
Da falta de força de não enganar
De não se satisfazer e não terminar
Mereci?
O tormento da impotência
Da total e absoluta incompetência
Mas o alívio bate na porta do cérebro
Quando se houve que não foi justo
Que eu fui bom
Que não havia suficiente motivo
Que foi tão injusto quanto hipócrita
O que mais atormenta é a vacilada
Acertei em todos os palpites de relacionamentos
Os que dariam certo ou errado
Mas eu apostei em um visivelmente destrutivo
O pior, é que era o meu
Uma traição, um chifre
Um? Dois? Três?
Bendito chifre
Trouxe a paz para meu peito
Apesar das interrogações
A paz do não compromisso
Da não obrigação sufocante
Da obrigação moral
Da inquietação do corpo
Do livramento do inferno
Como é bom poder controlar o corpo
Sem matar a alma
Apenas deter seus impulsos
Os que levam à prisão
Ao castigo, ao purgatório
Hoje estou tão mais leve
Tão mais solto
Tão mais feliz
Tão mais forte
Obrigado chifre!
2001
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