Já vivi em um país onde as cidades eram mega e hard...
Toda noite ia ao cinema
e depois vagava de bar em bar
a procura de algo que me perdera
e que nunca conseguia me encontrar
(naquele tempo sexo, drogas
rock''n''roll e emoções baratas
me forneciam tudo que a ausência de Deus
podia me proporcionar)...
Eu levava uma existência onírica cuja filosofia
se resumia a uma postura de vida
a partir do que havia de mais ponta
ou maldito em termos de música...
Vocês não acreditariam se um dos meus amigos de então
descrevessem meu look: diuturnamente vestido de preto
por dentro e por fora, eu mais parecia um daqueles incubus
evadidos da caixa de Pandora: havia em mim um não sei quê
de anjo caído, que acabara de fugir do inferno
e que ao chegar aqui nesse primeiro e concêntrico
círculo do hades (pois é isso mesmo que o mundo é)
fora adquirido quase que de imediato
pela obsessão de tornar-me humano a qualquer custo,
exceto se a moeda exigida para a conclusão dessa estranha
transação fosse, em vez de sangue inumano, a tal da alma,
haja vista que naquela época
eu ainda continuava sendo literalmente, quem sabe
um ser desalmado e desprovido de espírito...
E as cidades dessa nebulosa e referida nação tinham sido tornadas
tão futuristas, que todos os seus mutantes habitantes
eram videntes e possuíam, soturnos,
o dom de saber como seriam os homens do noturno,
cada vez mais noturno amanhã, desse amanhã que já é quase hoje
e que nos trará, infelizmente, a Negra Aurora
ou “este amanhecer mais noite que a noite”.
E antes que alguém me pergunte o nome deste país
no qual eu vivi dos dezessete aos trinta anos,
vou logo avisando que esqueci como se chamava
esta nação de X-Mens, este despaís onde todos
os dias da semana eram noites de embalo e de terror
e se denominavam sexta-feira, sexta-feira treze e não sábado...
joselindomarcabraldacosta@yahoo.com.br
17/01/08