Não sofri pouco...
Por isso tenho muito
o que dizer ao outro,
aos outros,
principalmente àqueles
que imaginam
que seus umbigos
são o centro do Universo
quando, de fato,
não são sequer
o núcleo de si mesmos...
Não obstante, nunca
procuro o sofrimento
mas ele vem direto
a meu endereço
pois este sabe - é professor -
que não rejeito
os seus sábios ensinamentos
e pago o preço
(a moeda é a dor)
por suas aulas, por essas aulas
que jamais solicitei, mas pago
pois reconheço que aquele
que, como eu, deseja e busca
ser perfeito em amor,
em humildade, em valentia,
em mansidão, em solidariedade,
em empatia, em viajar ao próximo,
etc., etc., etc. e em recusa
- sim, e em recusa por que não? -
tem que entregar inteiro o coração
a dor para que esta, primeiro
o dilacere e em seguida o purifique
no fogo que é alegórico
que não é o fogo propriamente dito
mas queima, à seu modo
tanto quanto o outro
do qual ela - a professora dor -
após um tempo previamente estabelecido
(cuja duração é do conhecimento apenas dela),
o retira aceso e puro como um tição,
sim, meu coração é um tição aceso
que fumega... fumega... fumega...
...e jamais se apaga
nem é consumido
como a sarça que continuou verde
e inteira
Depois que Moisés, estarrecido e assombrado,
a viu arder ao pé do Horebe...
joselindomarcabraldacosta@yahoo.com.br