Havia uma floresta, com árvores gigantescas cujo interior existia um pântano onde quase ninguém entrava. Só mesmo os pequenos animais. Ali a natureza criou diversas plantas e flores, que praticamente só cresciam na sombra.

    Os insetos rasteiros, os roedores e as aves, conviviam harmoniosamente no lugar, onde só mesmo as árvores gigantes se destacavam através de suas copas e recebiam os raios do sol. As demais plantas sobreviviam através de pequenas fimbrias onde o calor penetrava lentamente.

    Dentre as várias espécies cresciam quase que na raíz das árvores, um tipo diferente de flor, aliás, pequenas flores de diversas cores. Popularmente o povo as chamava de “Maria teimosas”. A vida destas flores era inevitavelmente igual. Todas nasciam para viver na sombra da árvore. E assim passaram séculos e séculos, com a natureza equilibrando o mundo que nós chamamos de  ecossistema. Até que um dia, uma entre tantas “ marias” , iniciou uma discussão sobre a possibilidade de crescerem não mais de forma rasteira e sim para o alto, em direção ao sol, quem sabe conseguiriam atingir o topo das grandes árvores e ver o mundo repleto de luz.

    Pronto. A notícia se espalhou entre todas as “maria teimosa" e de todas as partes as plantas mais velhas mandavam recados dizendo que tal fato jamais poderia ocorrer, pois certamente resultaria na morte de quem tentasse.

   Mas, havia uma “Mariazinha” que não se conformava com a vida que levava. Jovem e alegre, juntou-se a outras amigas e amigos lutando para subir. E tanto esforço resultou que um dia “ mariazinha” e seus amigos quase se encontraram com a luz.

   Porém, como todos foram criados para viverem na sombra das árvores, um medo, quase pânico, tomou conta de todo o grupo que ousou atingir o lugar onde havia sol e luz. Receosos com a possível morte, recuaram, restando apenas “Mariazinha” no alto.

     - Desista Mariazinha. Gritavam todos.

     - Pare. Não vá mais para cima, você pode morrer. Diziam outros.

    Mariazinha, entretanto, decidida e disposta desafiar a natureza que durante tantos anos só permitiu toda espécie viver na sobra, resolveu continuar até a luz.

    Ao chegar até o limite da cópula da árvore, ficou deslumbrada. Fascinada pelo que via, gritava de alegria:

    - Meus amigos venham também. Vocês não sabem como é lindo o mundo irradiado de luz. As cores são diferentes. Existe acima de nós um céu azul, maravilhoso!

   - Não “Mariazinha”,  você vai morrer. Volte logo. Gritavam todos.

   - Ah! Não voltarei. Jamais voltarei. Respondeu com lágrimas de alegria.

    Mas, como a natureza de “Mariazinha” não foi feita para viver na luz, o pequeno ser começou a desprender-se da árvore. Enquanto respondia aos seus  amigos:

   - Não importa amigos. É melhor viver um só momento de desafio e obter a felicidade para ver o que vejo agora, que viver toda uma vida confinada ao triste destino das sombras. Sem esperança. Sem qualquer perspectiva. É quase um sonho! É um sonho!  

     - Valeu. Gritava a pequena flor enquanto o vento a levava através da floresta.

     No alto da árvore encontrava-se uma velha flor, que pensava consigo mesma, não resistiu e falou às flores mais jovens:

   - Que maravilha, na minha velhice, ver ainda, uma flor da minha espécie receber a luz. E os idiotas que vivem na sombra sem luz, pensam que só os sábios recebem a luz. Esquecem que os loucos são poucos, porém puros. E só os loucos ousados abrem novos caminhos...

    Após a experiência de “Mariazinha”, a notícia se espalhou pela floresta, até que de tantas tentativas, a espécie “Maria teimosa” deixou de viver no pântano e nas sombras das árvores, para espalhar-se por todo o mundo, passando a viver nas encostas, nos bosques e nas pradarias. Por isso, é que são chamadas “ Maria teimosa” , desafiaram a natureza para encontrar a luz.